segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

PESQUISA SOBRE ARQUITETO: sua produção residencial

Arquiteto escolhido: João Walter Toscano

INTRODUÇÃO

Desde criança, João Walter Toscano mostra grande interesse por desenhos. Sendo assim, a aptidão para a arquitetura era bastante notável. Recém-formado em arquitetura aos 23 anos, Toscano já recebeu o primeiro de uma série de prêmios que vem acumulando durante toda sua carreia ate os dias atuais.


1. RESUMO BIOGRÁFICO

João Walter Toscano é brasileiro, nasceu no ano de 1933, em uma cidade do interior do estado de São Paulo, Itu. Destarte, obteve acesso limitado à vida cultural e social.
Mesmo vindo de origem humilde, que o limitava de certos gozos materiais, João Walter Toscano desde a sua infância mostra grande interesse e aptidão por desenhar. Em um primeiro momento, desenhava tudo que o chamava a atenção, e depois, passou a desenhar caricaturas dos políticos da época.
Um fato marcante, o casamento de sua irmã com o filho de um fazendeiro rico ligado ao partido comunista, o ajudou a dar inicio não só à vida cultural, mas também política.
No fim do colegial, João Walter Toscano queria cursar faculdade de engenharia, porem, conversando com um amigo do seu cunhado, um engenheiro formado pela Mackenzie, João ficou sabendo que os alunos do curso de arquitetura desenhavam bastante, e isso o encantou de tal maneira que por volta de 1947 procurou saber o que era arquitetura.
O acesso à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), se deu através do fato do irmão de João conseguir uma bolsa de estudos oferecida pelo Jockey Clube, destinada aos estudantes pobres portadores de boas notas. João e seu irmão, que por sua vez cursava Química na USP, como não tinham dinheiro moravam em um porão de uma pensão. Tempos depois, o irmão de João conseguiu um bom lugar em Higienópolis, um casarão onde funcionava a Juventude Universitária Católica (JUC), cujos estudantes pobres tinham direito de acesso a quartos reservados para os mesmos, esses quartos, portavam de um bom espaço interno e tinha vaga para cinco estudantes carentes.
Graduou-se na FAU-SP no ano de 1957, sempre mantendo sua preocupação em fazer um trabalho com sensibilidade, buscando com objetividade a solução dos problemas, tentando criar coisas novas e interessantes. Busca inspiração em alguns nomes da arquitetura moderna brasileira como Lucio Costa, Niemeyer e Artigas.
Recém-formado, João Walter toscano juntamente com Júlio Katinsky e Abrahão Sanovick venceram o concurso para o projeto do Iate Clube de Londrina. Nessa época, o mesmo projeto foi muito divulgado e obteve grande repercussão na época.
Com o sucesso do Iate Clube de Londrina vieram então alguns convites de projetos para João Walter Toscano, no ano de 1959 foi convidado para projetar a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Itu, logo depois, em 1962, veio o convite para fazer o projeto da Faculdade de Filosofia de Assis em São Paulo e, ainda em Assis, foi convidado para projetar o Clube da cidade.
João Walter Toscano seguiu projetando cada vez mais, até que em 1985, com o projeto da Estação Largo Treze de Maio em São Paulo, João se aprofundou em estudos e pesquisas sobre as possibilidades plásticas, técnicas e industriais do aço, cujos resultados permitem apontá-lo como um dos pioneiros da arquitetura do aço no Brasil.
Em 1962, João Walter Toscano foi convidado por Nestor Goulart para lecionar na FAU-USP, onde permaneceu nesse cargo por cinco anos. Depois disso, João só voltou a dar aulas depois que defendeu mestrado e doutorado, isso em 1985.
João Walter Toscano tem escritório próprio desde 1957, quando se diplomou pela FAU-USP, onde fez mestrado e doutorado e leciona no Departamento de História. Recebeu, em 1999, o Grande Prêmio da 4ª Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo, pelo projeto da estação Pêssego do metrô paulistano, desenhada junto com Odiléa Toscano.
Outros projetos de Toscano também receberam reconhecimento nacional e internacional, como o projeto da Estação Largo 13 de Maio em São Paulo, e que graças aos estudos e pesquisas realizadas sobre as possibilidades plásticas, técnicas e industriais do aço, podemos apontá-lo como um dos pioneiros da arquitetura do aço no Brasil.
O projeto da Estação Largo 13 de Maio acumula na atualidade os seguintes prêmios:
Bienal Internacional de Arquitetura - 1983, Bienal Mundial de Arquitetura de Sofia na Bulgária - 1987 e II Bienal Internacional de São Paulo - 1993.
Toscano na atualidade, conta com algumas particularidades em seu currículo, como:
Na III Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo, recebeu o prêmio Ex-Aequo pelo projeto de restauração e reurbanização da Praça do Monumento do Ipiranga, São Paulo, SP.
Na IV Bienal Internacional de Arquitetura, 1999 participou com sala especial e recebeu o Grande Prêmio Ex-Aequo pelo projeto para o Edifício da Estação Pêssego, indicado para o II prêmio Mies Van Der Rohe de Arquitetura Latino-Americana.
Recebeu ainda o Prêmio pelo conjunto de Obras no IX Congresso Brasileiro de Arquitetura, São Paulo, 1976, o Prêmio Rino Levi do Instituto de Arquitetos do Brasil, IAB, 1974 e o Prêmio Paulo Fragoso, 1986.
Participou de diversos eventos no país e no exterior, como a Exposição de Arte Brasileira "Body And Soul", Museu Guggenheim, NY, 2001.
Em 2002 foi escolhido como um dos representantes de Arquitetura Brasileira na 8ª. Mostra Internacional de Arquitetura da Bienal de Veneza.
Tem ministrado conferências e participado de ciclos de aulas nas Universidades do Porto e Coimbra em Portugal e no Brasil, nas Universidades Federais do Rio Grande do Sul, Brasília e Florianópolis.
Alem de inúmeras participações em congressos e mostras, destacando-se:
Exposição Internacional de Arquitetos, I Bienal de São Paulo, em 1968
Arquitectura Actual Brasilena, CAYC, Buenos Aires, Argentina, em 1983
Exposição de Arquitetura "Tradição e Ruptura", Fundação Bienal de São Paulo, em 1983
Bienal Mundial de Arquitetura, Interarch’87, Sofia, Bulgaria, em 1987
Mostra "Zeitgenissische Architektur in Brasilien", Dutches Architektur Museum, Frankfurt, Alemhanha, em 1994
II, III e IV Bienais Internacionais de Arquitetura em São Paulo, respectivamente, em 1993, 1997, 1999,
Exposição de Arquitetura do VI CIALP, Conselho Internacional de Arquitetos da Língua Portuguesa, Luanda, Angola, em 1997
Em 1984 a Associação Paulista de Críticos de Arte, lhe confere o prêmio APCA - Melhor Arquitetura, de 1984


2. OBRAS EMBLEMÁTICAS

Pode-se destacar duas obras como marco na carreira de João Walter Toscano, que são: a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Itu – SP (Figura 1) e a Estação Largo 13 de Maio – São Paulo – SP (Figura 2).

Figura 1. Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Itu – SP
Fonte: http://www.joaowaltertoscano.arq.br/

Figura 2. Estação Largo Treze de Maio – SP
Fonte: http://www.joaowaltertoscano.arq.br/


2.1. Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Itu – SP - 1959

O partido adotado procurou atender às condições do terreno urbano, às necessidades de insolação e ao regime de ventos. A superposição de dois blocos em esquadro e interligados por rampas, o torreão resolvendo a circulação para as salas de aula, o grande vazio e a transparência da entrada evidenciam a proposta clara e simples.
No bloco de aulas, a circulação foi situada na face ensolarada, protegida com elementos vazados, proporcionando um rendilhado com agradável condição de luz natural e ventilação. Na face das salas de aula, panos de vidro com caixilhos de ferro móveis asseguram ampla iluminação e controle da aeração, adequadas para o clima quente da cidade.
No outro bloco, as funções de administração, auditório para 120 pessoas e biblioteca são definidas pelos próprios móveis, permitindo total flexibilidade de uso dos amplos espaços. As faces seguem livres, tratadas com quebra sois verticais na frente dos vidros.
Amplas áreas gramadas e alguns grupos isolados de vegetação contrapondo muros de seixos rolados do rio Tietê fecham as áreas definidas pelos pisos de circulação.


2.2. Estação Largo 13 de Maio – São Paulo – SP - 1986

A escolha da área para a estação Largo 13 de Maio, na zona sul da cidade de São Paulo, se apóia na importância do eixo constituído pelo prolongamento da avenida Padre José Maria. A área do projeto compõe-se de uma faixa de terreno de 20 metros de largura, entre a ferrovia e a avenida marginal, ao longo do rio Pinheiros.
Na elaboração do projeto, foram levados em conta alguns pontos-chave. Em primeiro lugar, a importância da estação no âmbito regional, como um dos nós essenciais de agregação, em torno dos quais se desenvolve a cidade, acolhendo um grande número de pessoas, proporcionando atividades e encontros e criando coordenadas para a organização urbana.
A localização, outro aspecto relevante, permite integrar funcionalmente a estação com todos os outros meios de transporte, trólebus, ônibus e automóveis, garantindo ao usuário um fluxo contínuo e desafogado.
Além de absorver as funções a que se destinava, o projeto procurou manter a identidade da estação através de uma solução arquitetônica que exprime claramente a organização espacial, o sistema estrutural e o tratamento particular de cada um dos elementos.
Tem-se portanto um conjunto compacto e articulado de volumes: a gare, a torre e a passarela. A primeira se assenta sobre a linha férrea, seguindo o desenho da avenida marginal. A torre do relógio, elemento vertical que marca o edifício, é importante ponto de referência visual e resgata características tradicionais de estações de trem. A passarela encaixa-se no sentido perpendicular e acompanha o traçado da avenida Padre José Maria, fazendo a travessia da via marginal e definindo o único acesso à estação.
A gare abre visuais para a cidade e para o rio Pinheiros. Enquanto espaço de percurso e transição permite uma visão ampla do contexto urbano, com o qual estabelece conexões importantes.
A estação está resolvida em dois níveis: no piso inferior, as plataformas de embarque e desembarque, as salas de comando e um pequeno bloco com instalações complementares. No pavimento superior, mezanino e escadas abrigam funções de circulação e distribuição de passageiros, o grande átrio com bilheterias e acessos, e a zona operativa que compreende o controle ATC, locais de manutenção, equipamentos, salas de funcionários, copas e sanitários.


2.2.1. Sistema operacional

O sistema estrutural é baseado no emprego do aço, atendendo proposta da contratante. Obviamente, as possibilidades e vantagens oferecidas pelo material influíram no caráter do projeto, permitindo grande liberdade no arranjo das formas.
A distribuição espacial responde às exigências funcionais, mas as soluções arquitetônicas são caracterizadas pela utilização e apropriação desta ou daquela técnica, como um traço vigoroso na obra de arquitetura. Optou-se por um sistema misto, com fundações, pilares de sustentação dos pórticos, plataforma e muros de arrimo em concreto armado.
Os pórticos de aço, espaçados de 20 metros, superpostos a essa estrutura, sustentam o mezanino por meio de tirantes. O corpo principal do edifício, a gare, é constituído de pórticos biarticulados, compostos por chapas espessas de aço cos-ar-cor, com seções capazes de absorver a carga do mezanino, deixando a plataforma livre de pilares.


3. PRODUÇÃO RESIDENCIAL

Destacam-se dois projetos na área de produção residencial, a própria casa do arquiteto João Walter Toscano (Figura 3) e a casa projetada para Aldemar Bastos (Figura 4).

Figura 3. Residência João Walter Toscano – SP
Fonte: http://www.joaowaltertoscano.arq.br/


Figura 4. Residência Aldemar Bastos – Ubatuba – SP
Fonte: http://www.joaowaltertoscano.arq.br/



3.1 Residência João Walter Toscano - SP

Projetada em 1967, tem um caráter peculiar, em função de circunstâncias diversas e curiosas. O arquiteto e o cliente se fundem e algumas soluções surgem mais desembaraçadas.
Pensar a casa foi, em primeiro lugar, enfrentar o desafio do terreno, de acentuada inclinação, que sugeria uma solução em três pavimentos. A planta acompanha o desenho do lote.
O piso principal, um pouco acima do nível da rua, foi tratado e equipado como uma moradia independente, quase que como um apartamento: estar, jantar e pequena sala junto aos quartos e banheiros, além da cozinha, reunindo as funções essenciais à família. No andar imediatamente inferior, uma sala de música, serviços e garagem. O quintal coincide com o terreno, no piso mais baixo.
Na cobertura, um plano delgado de concreto em semicírculo organiza o pequeno solário.
Uma torre de circulação vertical, sustentando a caixa d’água, liga os quatro níveis por patamares, mantendo, no entanto, sua autonomia como volume destacado do corpo da casa.
Algumas primeiras experiências com materiais, como chapas metálicas estampadas ou perfuradas, a guisa de venezianas, trabalhando a luz e o rendilhado, foram pontos de partida para soluções posteriormente adotadas no tratamento das fachadas do balneário de Águas da Prata.


3.1.1 Ficha Técnica





3.2 Residência Aldemar Bastos – 1978

A casa fica no litoral norte de São Paulo, entre as cidades de Caraguatatuba e Ubatuba. Como em muitos pontos desse litoral, o lote ocupa parte de uma faixa entre a estrada e o mar, tendo como perspectiva de fundo a formação de morros que acompanha o magnífico recorte da costa.
A planta se desenvolve basicamente em forma de L e se abre em pátio voltado para o mar, ficando os quartos e banheiros dispostos perpendicularmente e os ambientes de estar, jantar e cozinha, paralelos à praia, protegidos por uma varanda que percorre os dois sentidos. A ala destinada aos dormitórios fica um pouco elevada em relação ao plano geral da casa.
O telhado, em duas águas, resolve a cobertura do corpo principal e os panos de vidro garantem a transparência e a continuidade do espaço. A madeira é material largamente empregado na caixilharia, forros e pisos e a carpintaria quase artesanal faz contraponto ao concreto e aos planos transparentes definidores de espaços.


3.2.1 Ficha Técnica







4 CONCLUSÕES

Portanto, ao longo de sua carreira, João Walter Toscano desenvolveu por mais de quarenta anos quase que uma centena de projetos de arquitetura e urbanismo, projetos esses envolvendo educação, transporte público, residências, campus universitários, dentre outros. Porem, concernentes, projetos que na sua maioria são ligados a espaços públicos ou destinados à educação. Mas, também na área de transportes urbanos sua obra tem espaço significativo. Guiado pela pesquisa constante das técnicas construtivas, associada aos princípios fundamentais da arquitetura moderna brasileira, o arquiteto paulistano desenvolve significativa produção arquitetônica. Fiel à essência de uma sólida formação acadêmica, assume para a liberdade, aplicada de maneira segura e sutil, e cujo arrojo estrutural é parte integrante de um todo coerente e sensível. Toscano ainda vive, leciona e tem seu próprio escritório de arquitetura desde 1957.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

SABBAG, Haifa Y. Entrevista com João Walter Toscano. Vitruvius, fevereiro de 2006. www.vitruvius.com.br/ac/ac015/ac015_3.aspTOSCANO, João Walter. Org.Rosa Camargo Artigas. João Walter Toscano. Editora Takano, 2002. São Paulo.Revista ACRÓPOLE. Abril 1967, número 338. São Paulo.
PROJETODESIGNER, Edição 277, Março 2003
Site pessoal de João Walter Toscano. www.joaowaltertoscano.arq.br



UNIVIX - Arquitetura 2008/1 - A
Bruno Barros Calegari Pancotto